sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Aquecimento Global? Esquecimento global...

Frustração. Essa é a melhor palavra para definir o resultado final do grande encontro mundial para debater as mudanças climáticas em curso, realizado neste ano de 2009 em Copenhagem, Dinamarca. Grande, aliás, somente em número de participantes, discursos e protestos, pois o impacto do encontro será pequeno em termos práticos. Entretanto, não é algo para se esquecer, uma vez que as consequências das medidas que deixou-se de acordar estarão vivas no nosso dia-a-dia em pouco tempo.
Na realidade, viu-se em escala global o que estamos acostumados a ver no nosso país: belos discursos defendendo a manutenção da qualidade de vida de nossa e das futuras gerações e nenhuma boa-vontade para agir prontamente e de fato. Da parte da representação oficial de nosso país, mesmo considerando que as palavras da Ministra Dilma tenham sido um deslize e não representam a mensagem politicamente correta do governo, elas revelaram o que está nas entranhas de quem quer crescer (e não desenvolver-se) a qualquer custo: o meio ambiente é um entrave para o Brasil. Sim, um problema que apenas cria mais trabalho para os burocratas e constitui-se em caminho lucrativo para o exercício da corrupção. Vivemos até hoje com a mesma concepção que moveram os colonizadores do país de séculos atrás: terra com "mato" é desperdício de espaço. É claro que há várias ações positivas e bons exemplos na sociedade mas, infelizmente, o exemplo não "vem de cima", haja visto o desmantelamento que o governo tem promovido no processo de licenciamento ambiental federal.
É claro que a responsabilidade pelos problemas ambientais em curso derivados das mudanças climáticas globais não pode ser completamente colocada sobre os ombros dos governantes que estiveram na Dinamarca recentemente. A causa vem da nossa ação contínua ao longo de décadas e isso se constitui em um problema importante: as discussões sobre o assunto caracterizaram-se em apontar os culpados pela atual situação, que foram muitos, mas também ninguém sozinho. Por ser um problema de causa difusa, a "culpa" vai desde o uso de combustíveis fósseis até ao cachorrinho de estimação (como noticiou recentemente a New Scientist) e isso inviabiliza qualquer decisão equilibrada e sensata. O foco central do debate deve ser outro.
Outro combustível para a fogueira do aquecimento: as posições conflitantes da comunidade científica. Enquanto pesquisadores de renome apontam indícios absolutamente convincentes da intesificação do aquecimento global, há outros também respeitados que dizem que o assunto não passa de "balela". Recentemente conversei com uma dessas grandes mentes de nosso país que postula que "essa história de aquecimento global não passa de um conto da carochinha". Bem, colocando de lado a controvérsia se o planeta está ou não aquecendo, penso que se temos um movimento mundial que prega uma mudança importante sobre nosso comportamento predatório e consumista, e que isso certamente vai contribuir para uma melhor qualidade de vida da sociedade, por que não apoiá-lo? É neste momento que a vaidade e a arrogância intelectual de uma parte e de outra leva ao pior resultado: nenhuma solução. Nosso risco está essencialmente em nos perdermos no mundo das idéias e em um pretenso "debate profundo", enquanto o tempo passa. Neste último mês de dezembro, o tempo passou mais uma vez.
Oxalá em 2010 algo novo aconteça em relação a esse assunto. Embora seja triste constatar o fato, apenas quando vidas de países mais ricos (e, portanto, vidas com "maior valor") forem perdidas por catástrofes ambientais intensificadas pela nossa ação agressiva é que a ação deverá surgir. Mas aí, o tempo passou mais uma vez e talvez seja tarde demais. Por enquanto, o esquecimento global é o principal combustível do aquecimento global.

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